Revista Morel #5

Fora de estoque

Morel é uma revista focada em literatura, fotografia, artes visuais e jornalismo.

Duda Brack: uma Iansã vamp nas lentes de Layla Motta. Joca Reiners Terron embala dez poetas para viagem. A poesia cardíaca de Marília Garcia. Alberto Martins à beira do vulcão. O lindo Brasil de João Farkas + ensaio de André Severo. Francisco Brennand dá um conselho a Fred Jordão. As turcas psicodélicas de Karime Xavier e Cris Veit. Rafael Sperling e Mari Casalecchi na cama com Neymar. Carlos Henrique Schroeder e uma Santa Catarina nazi. O afrofuturismo de Waldson Souza e Jeff Costa. Um conto de terror, por Alex Vidal Porto e Ju Bernardino. Ale Ruaro e Rafa dos Santos: fim de semana no parque BDSM. A angústia de Carol Ito. A esperança de Rafael Sica.

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Imaginação, fantasia, delírio.

Enquanto você tem a Morel em mãos, o país já deve ter feito sua escolha: continuar na direção do fascismo teocrático ou guinar no sentido de uma nação mais gentil, o destino manifesto do Brasil (cuja Costa Norte é apresentada lindamente sob a lupa geométrica e minimalista de João  Farkas). Desconhecemos, no momento em que criamos esta revista, a resposta do eleitorado; a revista sai entre turno e outro. A leitora e o leitor sagazes já intuem, por nossas pautas, a escolha de Morel – uma escolha nada difícil. Então, por ora, chega de política… ou, pelo menos, chega da política tradicional; afinal, tudo é sobre política. Daí viajar no escapismo que fundamenta nosso DNA. Como na blague de Žižek, lendo Lacan: “Quem não consegue encarar o sonho acaba se refugiando na realidade”.

Esta é a mais visual das edições de Morel. Portanto convocamos como padrinho Francisco Brennand, multiartista pernambucano que criou espaços deslumbrantes no Recife. Herdeiro de um vasto terreno no bairro da Várzea, onde foi a fábrica de cerâmica da família, Brennand passou décadas esculpindo murais, muralhas, totens, templos, espelhos d’água, esculturas, ambientes arquitetônicos e milhares de peças aludindo a seres e enredos mitológicos, e também a obras de escritores como Jorge Luis Borges e Joseph Conrad. Pintor de origem, intelectual erudito e escritor bissexto
– uma das últimas obras foi o Diário, em três volumes e 2 mil páginas –, inventou um mundo único. Ao visitar este “museu de si mesmo”, o dramaturgo Eugène Ionesco viu ali um cenário perfeito para seu teatro do absurdo.

Teatro é também o conceito primordial do ensaio de Ale Ruaro, que passou um fim de semana com um grupo de praticantes extremos de sadomasoquismo. Embora a violência e a dor não sejam nada irreais aqui, tudo é calculadamente encenado. No que lembra a máxima de W.S. Burroughs: “Tudo no mundo é sobre sexo. Menos sexo: sexo é sobre poder”. Ou Sade: “Pobre do homem cujos prazeres dependem da permissão de outros”. Do couro à pluma, passamos às criações flutuantes do trio Layla Motta, Leila Pigatto e Leila Turgante para Duda Brack. Em seu ensaio autoficcional,
a talentosa atriz e cantora encarnou vários personagens – “a rainha, a sereia, a criança, a cigana, a puta, a santa, a louca, a âncora, a pluma” –, em uma afirmação de sua multiplicidade.

As contradições do feminino são o fio a atravessar o ensaio de Karime Xavier. As mulheres turcas escondidas por túnicas, véus, niqabs e burcas, perdidas em tecidos claustrofóbicos pelas ruas de Istambul, foram enquadradas pela fotógrafa em um ensaio lisérgico. Especialista em documentar o cotidiano para a Folha de S.Paulo, sempre por um viés inusitado, Xavier trata suas imagens em preto e branco, cria máscaras de nanquim por trás e depois joga uma lanterna com celofane colorido sobre elas, no ponto onde quer destacar… neste caso, o conceito foi fazer com que as mulheres – tão invisibilizadas sob a ditadura de Erdogan – ganhassem uma luz surreal.

A literatura de invenção vem especialmente destemida neste número 5. Waldson Souza, revelação da ficção científica brasileira, imaginou um conflito curioso para a chamada Era das Máquinas Espirituais – quando as inteligências artificiais passarão do banco do passageiro para o banco do motorista (já se preparou pra isso?). Carlos Henrique Schroeder, craque do conto, foi ao passado investigar de onde vem o apreço de Santa Catarina pela necropolítica – e desenterrou um causo que parece mentira, mas aconteceu. Em registros diferentes, o diplomata Alexandre Vidal Porto revisita a cena do crime de seu romance Cloro em busca de um detalhe capital. Nada diplomático, Rafael Sperling dá uma canelada em Neymar – vamos aproveitar pra fazer isso enquanto ele não detona na Copa (será?). Entre prosa e poesia, entre palavra e gravura, Alberto Martins
tenta entender a linguagem da lava, à beira de um vulcão. Joca Reiners Terron aproxima dez poetas viajantes, de formações e ritmos muito diferentes, todos tentando responder a questão fundamental de Lacan: “Será que amor é isso, ter feito um pedaço do caminho juntos?”
E em outra viagem, entre poesia e ensaio, Marília Garcia procura preencher a inquietação: “Onde está o ritmo do começo?” Há muito mais em Morel, como você verá. Mais fantasia que realidade, menos respostas e mais perguntas. Como deve ser toda viagem.

 

Informação adicional

Peso 0,300 kg
Dimensões 21 × 28 × 7 cm
Escolha a edição

Morel. #5 João Farkas, Morel. #5 Capa Duda Brack

Editora

IpsisPUB

Idioma

Português

Tipo Capa

Brochura

Páginas

80

ISSN

.

Dimensões

21 X 28 cm

Papel Capa

MasterBlank 270g

Papel Miolo

Munken 120g

Impressão

Processo digital – INDIGO 10.000

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